HOJE, 25 E MARÇO - FERIADO NO ESTADO DO CEARÁ - MARCO DA ABOLIÇÃO DOS ESCRAVOS NO REFERIDO ESTADO.
"É indescritível então o que passou!... Antonio Bezerra, ‘alma de poeta e verdadeiro bardo das campanhas abolicionistas’; Sousa Melo ‘coração sempre aberto às grandes causas’, e Francisca Clotilde recitaram versos próprios; e só as três e meia terminou a delirante solenidade" (Raimundo Girão).
...
ALGUMAS NOTÍCIAS DO MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO CEARÁ E NO BRASIL:
* Em 1879 foi criada em Fortaleza a “Sociedade Perseverança e Porvir” tendo como expoente José Correia do Amaral e Antonio Cruz Saldanha (de Canindé); da qual partiu a idéia de se criar uma agremiação com caráter abolicionista.
* Dali surgiu, em 1880, a “Sociedade Cearense Libertadora”, cuja diretoria era composta por João Cordeiro, José Correia do Amaral, Frederico A. Borges, Antonio Bezerra de Menezes e Antonio Martins. Referida Sociedade teve “O Libertador” como órgão de imprensa.
* Quando José do Patrocínio esteve em Fortaleza no ano de 1882, hospeda-se no Hotel do Norte e a ele é oferecido um banquete. Do Hotel José do Patrocínio é levado para a Sede da Sociedade Libertadora, na ocasião conheceu Francisco José do Nascimento, prático da barra e mentor dos jangadeiros - famoso por sua frase: "Neste porto não se embarcam mais escravos!”. E na sede da Libertadora se dirigiu a Nascimento: _ Então, companheiro, o porto está mesmo bloqueado?
Nascimento responde com firmeza:
“Não há força bruta neste mundo que me faça reabrir ao tráfego negreiro!” .
* Por ocasião dessa visita e aclamado pelos jangadeiros e por todas as forças que representavam o ideal coletivo do momento, Patrocínio comoveu-se com o espetáculo que lhe ofereceu a província do Ceará e conferiu-lhe, solenemente, o título de TERRA DA LUZ, transportando assim para a história, a legenda das suas praias.
* Segundo Juvenal Galeno, “faltava uma voz de mulher que despertasse esse invencível exército soltando o primeiro brado ”. E a idéia de que fosse criada uma Sociedade das Senhoras Libertadoras, foi materializada no dia 30 de 1882 na chácara de José do Amaral, no Bairro Benfica, com a presença de várias senhoras, entre as quais, afirma Raimundo Girão: Maria Tomásia Figueiras Lima, Carolina Cordeiro, Elvira Pinho, Francisca Clotilde Barbosa Lima, Joana Antonia Bezerra e Joaquina Francisca do Nascimento, sendo esta última, a primeira esposa de Francisco José do Nascimento.
Sobre esse acontecido Antonio Martins em discurso por ocasião da Solenidade de Comemoração do Centenário da Abolição dos Escravos no Ceará, afirma,
"Na ocasião foi concedida carta de liberdade ao escravo Ricardo, em nome de dona Maria Correia do Amaral, como símbolo de adesão do presidente José Correia do Amaral.
Entre outros oradores o Dr. Guilherme Studart, como representante do Gabinete de Leitura. Também presente e ocupando a Tribuna Antonio Bezerra de Menezes; na eloqüência dos seus versos terminado o número de oradores escritos, pediu a palavra o Tte Felipe de Araújo Sampaio, como representante da Sociedade Artística Beneficente Conservadora, resumiu sua adesão dando carta de liberdade a sua escrava Joana de 25 anos de idade. Em seguida Luiz Xavier da Silva Castro leu a carta de liberdade da escrava Filomena de 23 anos e 3 filhos" .
* Consideramos uma das mais importantes fases da trajetória da professora Francisca Clotilde, a que devotou às lides abolicionistas. Sua missão de educadora não se limitava apenas à sala de aula, ávida de liberdade, engaja-se no Movimento Abolicionista, tomando parte na Sociedade das Senhoras Libertadoras.
Dentre as vastas mensagens de Francisca Clotilde que marcam a participação da Mulher na luta abolicionista, o poema “A Liberdade”
Somem-se as trevas horríveis
Além desponta uma luz
É a liberdade que surge
Nos horizontes azuis.
Dos lábios puros de um mártir
Nasceu repleta de luz
Trás em seus lábios a paz
É santa... Vem de Jesus!
Tem por preceitos sublimes
O amor, a caridade
É grande, imensa, divina
Esta sublime deidade
A sua voz poderosa
Faz heróis na mocidade.
Todo aquele que a defende
Tem por templo a eternidade.
Ergue o seu braço potente
Sua bandeira hasteou
Lutando com a tirania
Foi heróica e triunfou.
Aos vis, infames negreiros
Seus nobres filhos mostrou
E o cativeiro maldito
Seus pés baqueou.
Qual a Judith da história
Que a seus irmãos libertou
Com um heroísmo sublime
A Holofernes matou
Na pátria de Tiradentes
A liberdade raiou
É grande, heróica altaneira
O cativeiro esmagou.
No Brasil, pátria de heróis
Não deve haver mais escravos
Não deve esta mancha negra
Tingir a fronte de bravos.
Ei-la oh! moços cearenses
Avante, avante, marchai
De nossa Pátria querida
O cativeiro expulsai.
Coragem ! Marchai sem medo
Unidos, vos dando as mãos
É belo dizer sorrindo:
Todos nós somos irmãos,
Tereis depois do combate
Os louros verdes da glória
Que os heróis sempre revivem
No grande livro da história.
* Acarape foi o primeiro Município cearense a libertar os escravos, fato ocorrido a 1º de janeiro de 1883, em Festa na Praça da Matriz, com a presença inclusive de José do Patrocínio que assim se reporta:
"Para se conhecer da grandeza desta festa, basta vermos à cabeceira da mesa o Parlamento, representado pelo Exmo Sr. Conselheiro Liberato Barroso – o Parlamento é a idéia. À sua direita está a espada vencedora – O Exército Brasileiro, representado na pessoa do insigne General Antonio Tibúrcio Ferreira de Sousa. À sua esquerda a Igreja Católica, que convence das verdades eternas, representada condignamente pelo Revmo. Padre Silveira Guerra. Portanto, senhores, temos aqui três cousas distintas: a idéia que ilumina, a espada que vence e o sacerdote que convence".
* A exemplo de Acarape, outros municípios foram libertando seus escravos. No Tauá, tudo correu à conta do devotamento e iniciativa do Dr. José Baltazar Ferreira Facó, Juiz de Direito, do Dr. Joaquim Primeiro Citó de Araújo, Juiz Municipal e do Vigário Padre Alexandre Ferreira Barreto. E a libertação dos escravos neste Município foi decretada aos 25 de abril.
* Segundo a Revista do Instituto de História do Ceará em 1872 a População de São João do Príncipe (Tauá + Parambu) era de 8.866 habitantes livres e de 838 escravos; Maria Pereira 16.674 livres e 589 escravos; Arneiroz 5.419 livres e 487 escravos; Aracati 16.674 livres e 971 escravos; Cococy 2.753 livres e 387 escravos; Marrecas 3341 livres e 229 escravos; Saboeiro 5.125 livres e 496 escravos.
* Vendo alguns documentos referentes à Abolição do Ceará, Geraldo Nobre se refere a Ofício do Presidente da Província Domingos Antonio Rayol, datado de 12 de maio de 1883, congratulando-se com o Juiz de Direito de São João do Príncipe (Tauá) pela libertação dos escravos a 25 de abril de 1883.
* A Abolição em Fortaleza, capital da Província do Ceará deu-se em Sessão solene no Plenário da Assembléia aos 24 de maio de 1883, onde foram cantados o Hino Nacional, o Hino da Independência, o Hino da Redenção e o Hino 24 de Maio. Raimundo Girão (1894:182) afirma: “A oração de Maria Tomásia, pelo calor com que foi pronunciada, valeu por uma convulsão. Francisca Clotilde, recitando poesia sua, não arrancou efeito menor”.
* Em 25 de março de 1884, Fortaleza sediou a Festa da Libertação dos Escravos de toda a Província. Naquele dia, a Imprensa, Associações e a “Sociedade das Cearenses Libertadoras” compuseram uma mesa, circundada por 50 moças, vestidas de branco, com faixas referentes a seu Município. Ao todo, cerca de 200 senhoras e senhores da alta sociedade fortalezense comprovavam o ato. As mulheres também participavam no coro e do recital de poesias.
Raimundo Girão descrevendo o momento histórico em que Dr. Sátiro de Oliveira Dias declarou: “A província do Ceará não possui mais escravos”,
"É indescritível então o que passou!... Antonio Bezerra, ‘alma de poeta e verdadeiro bardo das campanhas abolicionistas’; Sousa Melo ‘coração sempre aberto às grandes causas’, e Francisca Clotilde recitaram versos próprios; e só as três e meia terminou a delirante solenidade.
* A Abolição no Ceará teve repercussão internacional, tanto que, José do Patrocínio, impossibilitado de estar presente, como planejara, festeja mesmo lá na Europa, oferecendo à imprensa francesa, em honra do feito, um banquete de confraternização, no decorrer do qual lê a mensagem de Victor Hugo em resposta à carta que lhe fizera: _ Uma província no Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária. Os jornais da Cidade Luz salientam o fato com francas simpatias e as notícias repercutem jubilosamente no Rio de Janeiro e nos demais recantos do Brasil.
E o Ceará pode oferecer a Nação o exemplo do seu 25 de Março. Nélson Werneck Sodré comenta:
* O movimento abolicionista, em 1884, alcança vitória de grande repercussão: a província do Ceará extingue o cativeiro em seu território. Resultara da mobilização das camadas populares, os empregados do comércio, os trabalhadores de terra e do mar, os heróicos jangadeiros, que paralisaram o tráfico negreiro interprovincial, recusando-se a transportar escravos, os intelectuais, com o jornal Libertador à frente, como órgão da Sociedade Cearense Libertadora. O acontecimento foi amplamente comentado pela imprensa abolicionista em todo o país e motivou a multiplicação de órgãos que se batiam pela causa libertadora.
* Dedicado “Aos Libertadores” Francisca Clotilde escreve “Acróstico” formado pela frase “O CEARÁ É LIVRE”,
O fim é este! Ousados Paladinos
Chegastes ao thabor cheios de glória
E a fronte ides alçar ao som dos hinos
Aos cânticos festivos da vitória
Ressoe o brado augusto da amplidão:
Aqui hoje se estreita um povo irmão!
É livre o Ceará, reina a igualdade:
Livres somos! Triunfa a nova idéia!
Imensa se levanta a liberdade
Vencendo aos belos campos na epopéia
Rompe as brumas com a loura alvorada
E a aurora de Deus surge abrasada .
* Joaquim Nabuco em exaltação ao Ceará pela Abolição, afirma:
"Os brasileiros hão de reconhecer no cearense o precursor da transformação nacional. Esplêndido farol dos nossos argonautas das nossas liberdades! Quanta glória, ó terra predestinada: ser a primeira entre as vinte irmãs, a Fênix imortal da seca, vítima augusta da incapacidade governamental da cobardia da política e de atroz ganância dos traficantes. Como és belo Ceará".
* Somente quatro anos depois que se dera a Abolição no Ceará, viu-se extinta a escravidão no Brasil. No memorável 13 de maio de 1888, uma Mulher – a Princesa Isabel, assina a Lei da Áurea. Segundo Rubens Falcão (1984:71),
"A extinção do elemento servil pelo influxo do sentimento nacional e das liberalidades particulares em honra do Brasil, adiantou-se pacificamente de tal modo que é hoje aspiração aclamada por todas as classes, com admiráveis exemplos de abnegação da parte dos proprietários. Quando o próprio interesse privado vem espontaneamente cooperar para que o Brasil se desfaça da infeliz herança, que as necessidades da lavoura haviam mantido, confio em que não hesitareis em apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura em antagonismo com o espírito cristão e liberal de nossas instituições".
A Lei de Nº. 3.353 - “É declarada extinta a escravidão no Brasil”, deu a princesa Isabel cognome de – A Redentora. Segundo Amaral (1971:42),
"As aclamações aumentam. De uma sacada, Joaquim Nabuco, eloquente, vibrante, comunica ao povo que está extinta a escravatura no Brasil. A emoção coletiva atinge o apogeu. E Jose do Patrocínio, atira-se aos pés da Redentora, fazendo ouvir-se numa frase imorredoura: _ minha alma sobe de joelhos nestes Paços... D. Isabel, radiante, mostra ao Barão de Cotegipe, de uma das janelas do Paço, o entusiasmo do povo; e sorrindo, pergunta-lhe: _ Barão, não foi acertada a votação desta Lei? Comovido e carinhoso, fitando-a com doçura, respondeu Cotegipe: Redimistes, sim, uma raça; mas perdestes vosso trono. Dantas consolando-a, respondeu:
_ Vossa Alteza fique tranquila, porque tem um trono no coração de cada brasileiro.
* Stela Araújo (1971:237), afirma que Francisca Clotilde participou ativamente do Movimento Abolicionista, do começo ao fim:
"Francisca Clotilde foi uma das pioneiras do Movimento Libertador do Ceará, tanto que, saindo vitoriosa a causa da Abolição, ela, ao oferecer uma coroa de louros ao Dr. Caio Prado , então presidente da Província proferiu a seguinte quadrinha de sua autoria:
Eis o momento sublime
Da liberdade e da glória,
No Mundo inteiro ressoam
Os hinos dessa vitória!"
* No dia 17 de maio de 1888 no Instituto do Ceará, reuniram-se os Sócios: Dr Paulino Nogueira (presidente), Joaquim Catunda, João Perdigão, Revdo Dr. Frota, Dr. Virgílio de Moraes, Antonio Augusto, Dr. Guilherme Studart e Antonio Bezerra, aos quais o Presidente propôs:
" O Instituto do Ceará não pode ficar indiferente a um tão grande feito, que faz o orgulho de todo coração bem formado, tanto mais quanto eu tenho o prazer de contar entre vós alguns dos mais decididos heróis dessa imortal campanha. Por isso proponho-vos que levantemos a Sessão passemos à Sereníssima Princesa Imperial Regente, o Anjo Tutelar dos cativos, esse telegrama de felicitações:
‘O Instituto do Ceará felicita a Vossa Alteza pelo ato que igualhou todos os brasileiros, levantando a Pátria perante todas as Nações civilizadas’.
* De Sua Alteza o Instituto recebeu o seguinte telegrama: Petrópolis, 20 de maio de 1888
INSTITUTO DO CEARÁ
Sua Alteza a Princeza Izabel agradece suas felicitações.
Camarista da Semana
Miranda Reis .
* Uma das virtudes de Francisca Clotilde, é o dom da gratidão. O soneto “D. Luís D’Orleans”, é dedicado ”Ao coração alanceado de Isabel, a Redentora”,
É vivo o teu lugar, a cintilar na história,
Descendente de reis, o teu manto altaneiro,
Há de sempre guardá-lo, aureolado de glória,
O grande coração do povo brasileiro!
Morreste sem fitar o esplendente cruzeiro
Que nos guia e conduz em bela trajetória,
Mas soubeste exaltar no país estrangeiro,
Por teu gênio imortal, tua augusta memória.
Ninguém pode privar que, num êxtase exaltado,
Em surtos magistrais, condor do pensamento,
Pairasses neste azul sereno e constelado.
Expulsou-te o Brasil; mas, embora proscrito,
O mundo iluminou o teu régio talento
E um trono conquistaste esplêndido infinito .
* Pelo transcurso de comemoração do vigésimo aniversário da Libertação dos Escravos no Brasil Francisca Clotilde escreve crônica intitulada “A Jangada”,
"Em face do mar, contemplando a jangada que desliza garbosa sobre a esteira azulada das águas, volve-se o meu espírito para a gloriosa campanha do abolicionismo na terra que amo estranhado desvelo.
Relembro a quadra feliz em que o ideal da liberdade dominava todos os espíritos, fazendo as lágrimas dos cativos transformar-se em sorrisos de esperança.
Quando o heróico jangadeiro - Dragão do Mar - bradou com sua linguagem sublime: “Aqui não se embarca mais um escravo!” - fechando assim o porto a um dos mais vis comércios que podiam ser realizados entre gente civilizada, um frêmito de entusiasmo agitou aqueles que pugnaram pela causa santa e novos horizontes se dilataram para os miseros filhos da raça precita. Era o arranco generoso de um coração livre que repercutiram em muitos outros, limpando da superfície dos verdes mares a mancha que neles deixara a passagem dos navios negreiros.
Que festas deslumbrantes não comemoram o magno acontecimento!
As emoções tolhiam o verbo potente do Dr. Almino e as suas frases de fogo cristalizaram-se em lágrimas de júbilo como os que numa explosão de entusiasmo lhe correram ao longo das faces a 24 de Maio no palacete da Assembleia, onde em uma apoteose de sorrisos e de flores se glorificava a Fortaleza pela abolição de seus escravos.
Aquelas noites hibernais tinham luares de alegria, reverbérios de patriotismo que deslumbravam, quando o préstito libertador percorria as ruas, ostentando-se nas mãos de nossas gentis patrícias, os símbolos dos Municípios que já haviam recebido o beijo da aura civilizadora.
Assim, todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glórias imorredouras de minha terra" .
MOTA, Anamélia Custódio. In: Capítulo A Abolicionista. Francisca Clotilde: uma pioneira da Educação e da Literatura no Ceará.
"É indescritível então o que passou!... Antonio Bezerra, ‘alma de poeta e verdadeiro bardo das campanhas abolicionistas’; Sousa Melo ‘coração sempre aberto às grandes causas’, e Francisca Clotilde recitaram versos próprios; e só as três e meia terminou a delirante solenidade" (Raimundo Girão).
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ALGUMAS NOTÍCIAS DO MOVIMENTO ABOLICIONISTA NO CEARÁ E NO BRASIL:
* Em 1879 foi criada em Fortaleza a “Sociedade Perseverança e Porvir” tendo como expoente José Correia do Amaral e Antonio Cruz Saldanha (de Canindé); da qual partiu a idéia de se criar uma agremiação com caráter abolicionista.
* Dali surgiu, em 1880, a “Sociedade Cearense Libertadora”, cuja diretoria era composta por João Cordeiro, José Correia do Amaral, Frederico A. Borges, Antonio Bezerra de Menezes e Antonio Martins. Referida Sociedade teve “O Libertador” como órgão de imprensa.
* Quando José do Patrocínio esteve em Fortaleza no ano de 1882, hospeda-se no Hotel do Norte e a ele é oferecido um banquete. Do Hotel José do Patrocínio é levado para a Sede da Sociedade Libertadora, na ocasião conheceu Francisco José do Nascimento, prático da barra e mentor dos jangadeiros - famoso por sua frase: "Neste porto não se embarcam mais escravos!”. E na sede da Libertadora se dirigiu a Nascimento: _ Então, companheiro, o porto está mesmo bloqueado?
Nascimento responde com firmeza:
“Não há força bruta neste mundo que me faça reabrir ao tráfego negreiro!” .
* Por ocasião dessa visita e aclamado pelos jangadeiros e por todas as forças que representavam o ideal coletivo do momento, Patrocínio comoveu-se com o espetáculo que lhe ofereceu a província do Ceará e conferiu-lhe, solenemente, o título de TERRA DA LUZ, transportando assim para a história, a legenda das suas praias.
* Segundo Juvenal Galeno, “faltava uma voz de mulher que despertasse esse invencível exército soltando o primeiro brado ”. E a idéia de que fosse criada uma Sociedade das Senhoras Libertadoras, foi materializada no dia 30 de 1882 na chácara de José do Amaral, no Bairro Benfica, com a presença de várias senhoras, entre as quais, afirma Raimundo Girão: Maria Tomásia Figueiras Lima, Carolina Cordeiro, Elvira Pinho, Francisca Clotilde Barbosa Lima, Joana Antonia Bezerra e Joaquina Francisca do Nascimento, sendo esta última, a primeira esposa de Francisco José do Nascimento.
Sobre esse acontecido Antonio Martins em discurso por ocasião da Solenidade de Comemoração do Centenário da Abolição dos Escravos no Ceará, afirma,
"Na ocasião foi concedida carta de liberdade ao escravo Ricardo, em nome de dona Maria Correia do Amaral, como símbolo de adesão do presidente José Correia do Amaral.
Entre outros oradores o Dr. Guilherme Studart, como representante do Gabinete de Leitura. Também presente e ocupando a Tribuna Antonio Bezerra de Menezes; na eloqüência dos seus versos terminado o número de oradores escritos, pediu a palavra o Tte Felipe de Araújo Sampaio, como representante da Sociedade Artística Beneficente Conservadora, resumiu sua adesão dando carta de liberdade a sua escrava Joana de 25 anos de idade. Em seguida Luiz Xavier da Silva Castro leu a carta de liberdade da escrava Filomena de 23 anos e 3 filhos" .
* Consideramos uma das mais importantes fases da trajetória da professora Francisca Clotilde, a que devotou às lides abolicionistas. Sua missão de educadora não se limitava apenas à sala de aula, ávida de liberdade, engaja-se no Movimento Abolicionista, tomando parte na Sociedade das Senhoras Libertadoras.
Dentre as vastas mensagens de Francisca Clotilde que marcam a participação da Mulher na luta abolicionista, o poema “A Liberdade”
Somem-se as trevas horríveis
Além desponta uma luz
É a liberdade que surge
Nos horizontes azuis.
Dos lábios puros de um mártir
Nasceu repleta de luz
Trás em seus lábios a paz
É santa... Vem de Jesus!
Tem por preceitos sublimes
O amor, a caridade
É grande, imensa, divina
Esta sublime deidade
A sua voz poderosa
Faz heróis na mocidade.
Todo aquele que a defende
Tem por templo a eternidade.
Ergue o seu braço potente
Sua bandeira hasteou
Lutando com a tirania
Foi heróica e triunfou.
Aos vis, infames negreiros
Seus nobres filhos mostrou
E o cativeiro maldito
Seus pés baqueou.
Qual a Judith da história
Que a seus irmãos libertou
Com um heroísmo sublime
A Holofernes matou
Na pátria de Tiradentes
A liberdade raiou
É grande, heróica altaneira
O cativeiro esmagou.
No Brasil, pátria de heróis
Não deve haver mais escravos
Não deve esta mancha negra
Tingir a fronte de bravos.
Ei-la oh! moços cearenses
Avante, avante, marchai
De nossa Pátria querida
O cativeiro expulsai.
Coragem ! Marchai sem medo
Unidos, vos dando as mãos
É belo dizer sorrindo:
Todos nós somos irmãos,
Tereis depois do combate
Os louros verdes da glória
Que os heróis sempre revivem
No grande livro da história.
* Acarape foi o primeiro Município cearense a libertar os escravos, fato ocorrido a 1º de janeiro de 1883, em Festa na Praça da Matriz, com a presença inclusive de José do Patrocínio que assim se reporta:
"Para se conhecer da grandeza desta festa, basta vermos à cabeceira da mesa o Parlamento, representado pelo Exmo Sr. Conselheiro Liberato Barroso – o Parlamento é a idéia. À sua direita está a espada vencedora – O Exército Brasileiro, representado na pessoa do insigne General Antonio Tibúrcio Ferreira de Sousa. À sua esquerda a Igreja Católica, que convence das verdades eternas, representada condignamente pelo Revmo. Padre Silveira Guerra. Portanto, senhores, temos aqui três cousas distintas: a idéia que ilumina, a espada que vence e o sacerdote que convence".
* A exemplo de Acarape, outros municípios foram libertando seus escravos. No Tauá, tudo correu à conta do devotamento e iniciativa do Dr. José Baltazar Ferreira Facó, Juiz de Direito, do Dr. Joaquim Primeiro Citó de Araújo, Juiz Municipal e do Vigário Padre Alexandre Ferreira Barreto. E a libertação dos escravos neste Município foi decretada aos 25 de abril.
* Segundo a Revista do Instituto de História do Ceará em 1872 a População de São João do Príncipe (Tauá + Parambu) era de 8.866 habitantes livres e de 838 escravos; Maria Pereira 16.674 livres e 589 escravos; Arneiroz 5.419 livres e 487 escravos; Aracati 16.674 livres e 971 escravos; Cococy 2.753 livres e 387 escravos; Marrecas 3341 livres e 229 escravos; Saboeiro 5.125 livres e 496 escravos.
* Vendo alguns documentos referentes à Abolição do Ceará, Geraldo Nobre se refere a Ofício do Presidente da Província Domingos Antonio Rayol, datado de 12 de maio de 1883, congratulando-se com o Juiz de Direito de São João do Príncipe (Tauá) pela libertação dos escravos a 25 de abril de 1883.
* A Abolição em Fortaleza, capital da Província do Ceará deu-se em Sessão solene no Plenário da Assembléia aos 24 de maio de 1883, onde foram cantados o Hino Nacional, o Hino da Independência, o Hino da Redenção e o Hino 24 de Maio. Raimundo Girão (1894:182) afirma: “A oração de Maria Tomásia, pelo calor com que foi pronunciada, valeu por uma convulsão. Francisca Clotilde, recitando poesia sua, não arrancou efeito menor”.
* Em 25 de março de 1884, Fortaleza sediou a Festa da Libertação dos Escravos de toda a Província. Naquele dia, a Imprensa, Associações e a “Sociedade das Cearenses Libertadoras” compuseram uma mesa, circundada por 50 moças, vestidas de branco, com faixas referentes a seu Município. Ao todo, cerca de 200 senhoras e senhores da alta sociedade fortalezense comprovavam o ato. As mulheres também participavam no coro e do recital de poesias.
Raimundo Girão descrevendo o momento histórico em que Dr. Sátiro de Oliveira Dias declarou: “A província do Ceará não possui mais escravos”,
"É indescritível então o que passou!... Antonio Bezerra, ‘alma de poeta e verdadeiro bardo das campanhas abolicionistas’; Sousa Melo ‘coração sempre aberto às grandes causas’, e Francisca Clotilde recitaram versos próprios; e só as três e meia terminou a delirante solenidade.
* A Abolição no Ceará teve repercussão internacional, tanto que, José do Patrocínio, impossibilitado de estar presente, como planejara, festeja mesmo lá na Europa, oferecendo à imprensa francesa, em honra do feito, um banquete de confraternização, no decorrer do qual lê a mensagem de Victor Hugo em resposta à carta que lhe fizera: _ Uma província no Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária. Os jornais da Cidade Luz salientam o fato com francas simpatias e as notícias repercutem jubilosamente no Rio de Janeiro e nos demais recantos do Brasil.
E o Ceará pode oferecer a Nação o exemplo do seu 25 de Março. Nélson Werneck Sodré comenta:
* O movimento abolicionista, em 1884, alcança vitória de grande repercussão: a província do Ceará extingue o cativeiro em seu território. Resultara da mobilização das camadas populares, os empregados do comércio, os trabalhadores de terra e do mar, os heróicos jangadeiros, que paralisaram o tráfico negreiro interprovincial, recusando-se a transportar escravos, os intelectuais, com o jornal Libertador à frente, como órgão da Sociedade Cearense Libertadora. O acontecimento foi amplamente comentado pela imprensa abolicionista em todo o país e motivou a multiplicação de órgãos que se batiam pela causa libertadora.
* Dedicado “Aos Libertadores” Francisca Clotilde escreve “Acróstico” formado pela frase “O CEARÁ É LIVRE”,
O fim é este! Ousados Paladinos
Chegastes ao thabor cheios de glória
E a fronte ides alçar ao som dos hinos
Aos cânticos festivos da vitória
Ressoe o brado augusto da amplidão:
Aqui hoje se estreita um povo irmão!
É livre o Ceará, reina a igualdade:
Livres somos! Triunfa a nova idéia!
Imensa se levanta a liberdade
Vencendo aos belos campos na epopéia
Rompe as brumas com a loura alvorada
E a aurora de Deus surge abrasada .
* Joaquim Nabuco em exaltação ao Ceará pela Abolição, afirma:
"Os brasileiros hão de reconhecer no cearense o precursor da transformação nacional. Esplêndido farol dos nossos argonautas das nossas liberdades! Quanta glória, ó terra predestinada: ser a primeira entre as vinte irmãs, a Fênix imortal da seca, vítima augusta da incapacidade governamental da cobardia da política e de atroz ganância dos traficantes. Como és belo Ceará".
* Somente quatro anos depois que se dera a Abolição no Ceará, viu-se extinta a escravidão no Brasil. No memorável 13 de maio de 1888, uma Mulher – a Princesa Isabel, assina a Lei da Áurea. Segundo Rubens Falcão (1984:71),
"A extinção do elemento servil pelo influxo do sentimento nacional e das liberalidades particulares em honra do Brasil, adiantou-se pacificamente de tal modo que é hoje aspiração aclamada por todas as classes, com admiráveis exemplos de abnegação da parte dos proprietários. Quando o próprio interesse privado vem espontaneamente cooperar para que o Brasil se desfaça da infeliz herança, que as necessidades da lavoura haviam mantido, confio em que não hesitareis em apagar do direito pátrio a única exceção que nele figura em antagonismo com o espírito cristão e liberal de nossas instituições".
A Lei de Nº. 3.353 - “É declarada extinta a escravidão no Brasil”, deu a princesa Isabel cognome de – A Redentora. Segundo Amaral (1971:42),
"As aclamações aumentam. De uma sacada, Joaquim Nabuco, eloquente, vibrante, comunica ao povo que está extinta a escravatura no Brasil. A emoção coletiva atinge o apogeu. E Jose do Patrocínio, atira-se aos pés da Redentora, fazendo ouvir-se numa frase imorredoura: _ minha alma sobe de joelhos nestes Paços... D. Isabel, radiante, mostra ao Barão de Cotegipe, de uma das janelas do Paço, o entusiasmo do povo; e sorrindo, pergunta-lhe: _ Barão, não foi acertada a votação desta Lei? Comovido e carinhoso, fitando-a com doçura, respondeu Cotegipe: Redimistes, sim, uma raça; mas perdestes vosso trono. Dantas consolando-a, respondeu:
_ Vossa Alteza fique tranquila, porque tem um trono no coração de cada brasileiro.
* Stela Araújo (1971:237), afirma que Francisca Clotilde participou ativamente do Movimento Abolicionista, do começo ao fim:
"Francisca Clotilde foi uma das pioneiras do Movimento Libertador do Ceará, tanto que, saindo vitoriosa a causa da Abolição, ela, ao oferecer uma coroa de louros ao Dr. Caio Prado , então presidente da Província proferiu a seguinte quadrinha de sua autoria:
Eis o momento sublime
Da liberdade e da glória,
No Mundo inteiro ressoam
Os hinos dessa vitória!"
* No dia 17 de maio de 1888 no Instituto do Ceará, reuniram-se os Sócios: Dr Paulino Nogueira (presidente), Joaquim Catunda, João Perdigão, Revdo Dr. Frota, Dr. Virgílio de Moraes, Antonio Augusto, Dr. Guilherme Studart e Antonio Bezerra, aos quais o Presidente propôs:
" O Instituto do Ceará não pode ficar indiferente a um tão grande feito, que faz o orgulho de todo coração bem formado, tanto mais quanto eu tenho o prazer de contar entre vós alguns dos mais decididos heróis dessa imortal campanha. Por isso proponho-vos que levantemos a Sessão passemos à Sereníssima Princesa Imperial Regente, o Anjo Tutelar dos cativos, esse telegrama de felicitações:
‘O Instituto do Ceará felicita a Vossa Alteza pelo ato que igualhou todos os brasileiros, levantando a Pátria perante todas as Nações civilizadas’.
* De Sua Alteza o Instituto recebeu o seguinte telegrama: Petrópolis, 20 de maio de 1888
INSTITUTO DO CEARÁ
Sua Alteza a Princeza Izabel agradece suas felicitações.
Camarista da Semana
Miranda Reis .
* Uma das virtudes de Francisca Clotilde, é o dom da gratidão. O soneto “D. Luís D’Orleans”, é dedicado ”Ao coração alanceado de Isabel, a Redentora”,
É vivo o teu lugar, a cintilar na história,
Descendente de reis, o teu manto altaneiro,
Há de sempre guardá-lo, aureolado de glória,
O grande coração do povo brasileiro!
Morreste sem fitar o esplendente cruzeiro
Que nos guia e conduz em bela trajetória,
Mas soubeste exaltar no país estrangeiro,
Por teu gênio imortal, tua augusta memória.
Ninguém pode privar que, num êxtase exaltado,
Em surtos magistrais, condor do pensamento,
Pairasses neste azul sereno e constelado.
Expulsou-te o Brasil; mas, embora proscrito,
O mundo iluminou o teu régio talento
E um trono conquistaste esplêndido infinito .
* Pelo transcurso de comemoração do vigésimo aniversário da Libertação dos Escravos no Brasil Francisca Clotilde escreve crônica intitulada “A Jangada”,
"Em face do mar, contemplando a jangada que desliza garbosa sobre a esteira azulada das águas, volve-se o meu espírito para a gloriosa campanha do abolicionismo na terra que amo estranhado desvelo.
Relembro a quadra feliz em que o ideal da liberdade dominava todos os espíritos, fazendo as lágrimas dos cativos transformar-se em sorrisos de esperança.
Quando o heróico jangadeiro - Dragão do Mar - bradou com sua linguagem sublime: “Aqui não se embarca mais um escravo!” - fechando assim o porto a um dos mais vis comércios que podiam ser realizados entre gente civilizada, um frêmito de entusiasmo agitou aqueles que pugnaram pela causa santa e novos horizontes se dilataram para os miseros filhos da raça precita. Era o arranco generoso de um coração livre que repercutiram em muitos outros, limpando da superfície dos verdes mares a mancha que neles deixara a passagem dos navios negreiros.
Que festas deslumbrantes não comemoram o magno acontecimento!
As emoções tolhiam o verbo potente do Dr. Almino e as suas frases de fogo cristalizaram-se em lágrimas de júbilo como os que numa explosão de entusiasmo lhe correram ao longo das faces a 24 de Maio no palacete da Assembleia, onde em uma apoteose de sorrisos e de flores se glorificava a Fortaleza pela abolição de seus escravos.
Aquelas noites hibernais tinham luares de alegria, reverbérios de patriotismo que deslumbravam, quando o préstito libertador percorria as ruas, ostentando-se nas mãos de nossas gentis patrícias, os símbolos dos Municípios que já haviam recebido o beijo da aura civilizadora.
Assim, todas as vezes que sobre o dorso agitado dos mares vejo passar a jangadinha veleira, repassando os episódios da mais bela das campanhas, tenho ufania de ser cearense e sinto desejos de proclamar aos quatro ventos as glórias imorredouras de minha terra" .
MOTA, Anamélia Custódio. In: Capítulo A Abolicionista. Francisca Clotilde: uma pioneira da Educação e da Literatura no Ceará.
Anamélia, a família Mota fez parte desse processo de libertação. Em Pedra Branca, meu trisavô, Paulino de Souza Motta e seu irmão Leonardo Ferreira da Motta, junto com muitas outras pessoas, participaram da sessão de libertação dos escravos, segundo o jornal Constituição. Eles faziam parte da Sociedade Libertadora Pedra-branquense e, pelo que consta na matéria, contribuiram para alforriar os escravos. Uma história memorável!
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