SECA NO CEARÁ (TAUÁ)
CANÇÃO DO RETIRANTE
CANÇÃO DO RETIRANTE
Adeus, choupana querida,
Que deixei longe, deserta,
À margem da estrada erguida
Toda de palha coberta.
Trago dor no coração,
Onde geme a nostalgia
-Lembranças do meu sertão
Não me deixam noite e dia.
Noite e dia não me deixa
Esta tristeza cruel
E eu solto, assim, minha queixa
Cheia de pranto e de fel.
Minha alma, outrora risonha,
Hoje vive soluçando,
Toda paisagem tristonha
Da minha terra lembrando.
A mata seca, sem flores,
Deserta dos passarinhos,
Que dantes seus amores
Cantavam lá, junto aos ninhos.
Seca de todo a corrente
Que ligeira e cristalina
Se estirava docemente
Entre jacarés, na campina.
Borboletas, pirilampos
Tudo passou, dura sorte!
Paira, agora, sobre os campos
A ave sinistra da morte.
Muita sede e muita fome
Sofri sem dó, sem piedade;
A dor meu corpo consome
Sinto oprimir-me de saudade.
E vou sozinho marchando,
Triste! Sem rumo e sem lar
Ando a vida procurando
Nem sei si a posso encontrar.
Antonio de Castro. Revista A Estrella.
Aracati – CE, 28/10/1915.
TAUÁ - RIO TRICI - INVERNO DE 2004
De 1915! Que formidável poema. Por aí, em 1843, estiveram alguns meus ascendentes, no Cococi. Gosto dessa paisagem, mesmo árida. Bate mais, o coração.
ResponderExcluirLindo, também, a imagem do Rio Trici, de que meu pai tanto falava.
Um abraço, Anamélia,
da Lúcia
Obrigada Lúcia, pela visita. De fato, Canção do Retirante é um lindo poema que bem retrata a Seca do Quinze, do século passado. E mais, foi publicado na Revista A Estrella, que teve duração/circulação, no Ceará e em outros estados do Brasil, de 1906 à 1921, inicialmente da cidade de Baturité, e, posteriormente, da cidade de Aracati, tendo como redatora a professora e poeta Antonieta Clotilde, filha de Francisca Clotilde.
ResponderExcluirVolte sempre.
Anamélia