segunda-feira, 7 de maio de 2012

TAUÁ 250 ANOS DA ENTREGA DO TEMPLO AO CULTO PÚBLICO

TAUÁ  - 250 ANOS DE ENTREGA DA IGREJINHA AO CULTO PÚBLICO

PADROEIRA DE TAUÁ
(Por Joaquim Pimenta)
 
"Era padroeira de Tauá Nossa Senhora do Rosário, imagem muito antiga, de linhas toscas, já desbotada, mas, à distância, à luz profusa das velas de estearina, realçando a beleza e a serena magnitude de uma Virgem da Renascença. Nos dias de festa, passava-lhe o espanador com filial carinho; cingia-lhe o pescoço com um rico rosário de ouro massiço; grudava-lhe com cera, nas orelhas deterioradas, um lindo par de brincos, também de ouro, com pequenos rubis.

Apesar de ter perdido a crença em deuses e santos, quando soube, já professor de Direito, em Recife, que fora destronada de seu pedestal, talvez secular, para cedê-lo a outra de linhas esculturais, mais perfeitas e de tons mais vivos, roçou-me a alma de incréo uma nuvem de tristeza e de saudade pela velha imagem.

De sua côrte faziam parte um Cristo, muito magro, que o tempo tornara cor de âmbar; sangrando numa cruz comum, como deveria ter sido a que a tradição evangélica nos descreve; um São José modesto, na sua beatífica quietude de carpinteiro aposentado; um São Miguel mavortico, com a lança cravada em Lúcifer, vencido aos seus pés; um São Jorge, no seu ginete, o mesmo que cavalgava na Lua quando eu ignorava que o santo guerreiro e o fogoso corcél eram manchas de montanhas desnudas e frias; um S. Braz; uma Santa Rita, etc.

Como os antigos templos sertanejos, era a igreja de Tauá povoada de lendas e visagens, termo dado à aparições de almas do outro mundo ou a fenômenos estranhos do Além. O seu adro servira de cemitério e isto impressionava ainda mais os espíritos crédulos.

Contavam-se coisas de eriçar os cabelos, que se passavam abóbodas. gemidos, prantos, vozes tumulares de almas penadas, rogando missas e responsos, para se poderem safar do Purgatório. Gargalhadas estridentes, gritos histéricos quebrando a paz e o silêncio da noite.
Narravam, assustadas, velhas devotas, histórias que já lhe haviam transmitido as suas avós, e em que, quando menino acreditava piamente.

Apesar do pavor que eu tinha de defuntos e de almas do outro mundo, nunca vi nem ouvi coisa alguma de extraordinário durante os cinco anos em que fui sacristão. Tinha eu de dobrar finados: seis pancadas no sino grosso e três finos, se o defunto fosse homem; seis pancadas no sino fino e três pancadas no grosso se fosse mulher. Gratuitas as primeiras vinte e sete badaladas, fosse o defunto pobre ou rico, as quais eu contava com absoluta honestidade, às demais, pagas por uma taxa insignificante, que só davam resultado quando o cadáver era de família abastada".

PIMENTA. Joaquim. Retalhos do Passado. Rio de Janeiro: Departamento da Imprensa Nacional, 1949, p. 27 e 28.

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