sábado, 19 de maio de 2012

PRINCESA ISABEL DO BRASIL

Princesa Isabel do Brasil

"Expulsou-te o Brasil; mas, embora proscrito,
O mundo iluminou o teu régio talento
E um trono conquistaste, esplêndido infinito"
(Francisca Clotilde)

Dia 12 de maio de 2012 ganhei do meu filho Edmilson Barbosa, o livro "Princesa Isabel do Brasil: Gênero e Poder no Século XIX". Como venho estudando há algum tempo a "Literatura Feminina" do Século XIX, posso dizer que adorei o presente.

O autor da obra em apreço, Roderick J. Barman, retrata a personagem principal, Dona Isabel, como uma figura humana de uma afetividade familiar exemplar e que passou por muitos entravos em sua vida privada, assim como na esfera pública, herdeira do trono imperial.

Tentarei resumir em tópicos as mensagens principais que pude colher na leitura que fiz da referida Obra:

1. No mundo ocidental do Século XIX, nove mulheres foram monarcas ou regentes em seus países. Dentre essas mulheres, a Princesa Isabel, nascida no Brasil, no ano de 1846 e falecida em 1921.

2. A Princesa Isabel passou a infância e a adolescência num ambiente altamente patriarcal nas estruturas e nas atitudes.

3. O mundo girava em torno de D. Pedro II, e cada desejo seu era lei. Ao casar a filha aos dezoito anos de idade (1864), com um estrangeiro - Gastão d' Orléans (Conde d'Eu), o imperador intensificou o seu isolamento com relação aos brasileiros.

4. No século XIX, uma mulher casada de classe alta tinha cinco obrigações:

4.1. Servir ao esposo, dando-lhe apoio, afeição e fidelidade;
4.2 Governar o lar, tornando confortável a vida privada;
4.3 Desenvolver o papel de mediadora, conciliadora dos quatro pais e outros parentes mais velhos que ela;
4.4 Construir um círculo de amigos para proclamar o status do marido;
4.5 Parir e criar os filhos do esposo.
 
5. Primeira Regência: dia 03 de junho de 1871 - aos 25 anos - tendo como chefe de governo visconde do Rio Branco:

5.1 Educada para ser filha obediente, enquanto seu pai estivesse vivo, ela nada faria para lhe contestar o direito de conduzir os assuntos do Estado;
5.2 Em carta ao pai, datada de 04 de junho: "Ontem foi meu primeiro despacho, havia 5 ministros à minha chegada. Quando entrei na sala, fiquei abismada, 5 enormes pastas recheadas (...) Numa única cousa fiz uma reflexão: tratava-se  do pedido de exoneração do Santa Maria do cargo de inspetor da instrução pública. Julguei que eu que fui sua discípula não devia aceitar";
5.3 Eu diria que o marco da primeira regência da Princesa Isabel foi a Lei do Ventre Livre, promulgada em 28 de setembro de 1871.

6. O desejo de ser mãe"Gerar filhos sadios para o marido era finalmente cumprir o dever atribuído à esposa".

6.1 Depois de quase sete anos de casamento, em maio de 1871 D. Isabel deu sinais de estar grávida, porém, sofreu um aborto em agosto;
6.2 Depois, sofreu novo aborto em outubro de 1872;
6.3 Em julho de 1874 teve uma criança nascida morta; e por pouco não foi a óbito;
6.4 Em outubro de 1875 em um parto dificílimo nasceu o primeiro filho (Pedro de Alcântara); "Minha esposa prefere cuidar do Baby a qualquer outra coisa na vida" (conde D'Eu, maio de 1876).
6.5 Em 11 de setembro de 1876 um novo aborto;
6.6 Em janeiro de 1878 outro parto difícil nasceu o segundo filho (Luís, em homenagem ao avô paterno);
6.7 Em agosto de 1881 nasceu o terceiro filho (Antônio Augusto).
Esposa carinhosa, conforme cartas ao esposo, desta datada de 11 de junho de 1875, ela finaliza assim: "Beijo-te com o mesmo carinho com que te amo" (Isabelle).

6. Segunda Regência: (1876) - 18 meses pelo afastamento em excursão de D. Pedro II.

6.1 De março de 1876 a setembro de 1877 ela passou por uma série de provocações, na qualidade de governanta do Brasil e de atribuições na vida pessoal;
6.1.1 O fiasco da Reforma Eleitoral;
6.1.2 A Renovação da Questão Religiosa;
6.1.3 A Grande Seca.

Quando retornou ao Brasil, em maio de 1878 D. Pedro II autorizou o casal (o Conde D'Eu e a princeza Isabel) a viver dois anos fora do Brasil - o motivo principal seria o de procurar tratamento médico para o filho Pedro. Esse afastamento foi prorrogado por mais um ano e meio e o casal que levara dois filhos, retornou ao Brasil com três filhos.

7. Terceira Regência (1887-1888) - Teve como marco a votação e promulgação da Lei Áurea

7.1 O Conde d’Eu: “Não o assine, Isabel. É o fim da monarquia”. Ao que ela respondeu: “Assiná-lo-ei, Gaston. Se agora não o fizer, talvez nunca mais tenhamos uma oportunidade tão propícia. O negro precisa de liberdade, assim como eu necessito satisfazer ao nosso Papa e nivelar o Brasil, moral e socialmente, aos demais países civilizados”.
7.2 Depois da assinatura realizou-se grande festa no Rio de Janeiro, com grandes aclamações do povo. Estando a Princesa Isabel junto ao barão de Cotegipe na janela do palácio — o barão a estimava, embora estivessem em desacordo na questão da escravidão — ela perguntou-lhe: “Então, Senhor barão, V. Excia. acha que foi acertada a adoção da lei que acabo de assinar?”. Ao que o barão, com muito carinho, respondeu: “Redimistes, sim, Alteza, uma raça, mas perdestes vosso trono...”(4)
7.3
"Se é por causa da Abolição, não me arrependo; dou por bem dado perder o Trono" (Princesa Isabel do Brasil). 
7.4 A promulgação da Lei Áurea de 13 de maio de 1888, contribuiu para sua exclusão da vida pública e para o seu banimento da terra natal.


8. A Proclamação da República:

8.1 Aos 15 de novembro de 1889 o marechal Deodoro da Fonseca  proclamou a República e, no dia seguinte família real foi avisada de que teria 24 horas para deixar o Brasil.

8.2 "É com o coração partido de dor que me afasto de meus amigos, de todos os brasileiros e do País que tanto amei e amo, para cuja felicidade esforcei-me por contribuir e pela qual continuarei a fazer os mais ardentes votos" (Isabel, condessa D'Eu, Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889).

Na década de 1890 os filhos atingiram a idade adulta e tornaram- militares -  os três. Para preencher o vazio deixado pela partida dos filhos, ela se entregou com zelo e dedicação a todos os tipos de obras de caridades organizadas pela Igreja católica.

Com explosão da I Guerra Mundial em agosto de 1914 a vida plácida e regular mudou bruscamente: seus filhos Luís e Antonio precipitaram-se em defender a Pátria dos ancestrais. Antonio faleceu em 29 de novembro de 1918 e Luís em março de 1920.


***
Desse contexto, encontramos em nosso arquivo o soneto da solidária poeta cearense Francisca Clotilde, publicado na Revista A Estrella para o mês de abril de 1920.

D. LUIS ORLEANS

(Ao coração alanceado de Isabel, a Redentora)

É vivo o teu lugar, a cintilar na história,
Descendente de reis, o teu manto altaneiro
Há de sempre guardá-lo, aureolado de glória,
O grande coração do povo brasileiro!

Morreste sem fitar o esplendente cruzeiro
Que nos guia e conduz em bela trajetória,
Mas soubeste exaltar no país estrangeiro,
Por teu gênio imortal, tua augusta memória.

Ninguém pode privar que, num estro exaltado,
Em surtos magistrais, condor do pensamento,
Pairasses neste azul sereno e constelado.

Expulsou-te o Brasil; mas, embora proscrito,
O mundo iluminou o teu régio talento
E um trono conquistaste, esplêndido infinito.

Além desses rudes golpes pessoais, a própria saúde de Dona Isabel começou a se deteriorar (problemas cardíacos e excesso de peso), passando pelo uso da bengala, e por fim a cadeira de rodas.

Em maio de 1920, o presidente do Brasil enviou ao congresso o projeto de lei que revogava e autorizava o retorno da família real. A lei foi promulgada aos 07 de setembro do mesmo ano. A imobilidade negou-lhe uma derradeira consolação: retornar à pátria para presenciar o traslado dos restos mortais de seus pais.

Dona Isabel faleceu aos 14 de novembro de 1921. Seu corpo foi sepultado em Dreux, na França na cripta da família Orleans. Seu esposo, Gastão de Orléans, convidado que fora para as comemorações do Centenário da Independência, faleceu a caminho do Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1922.

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