O acaso colocou-os de novo em face um do outro , depois de cinco anos de separação .
E nem ao menos um recordação, uma saudade !
Custaram a conhecer-se. Ambos tinham mudado muito durante a ausência .
Uma suave intimidade renascia entre eles . Pareciam irmãos que se interrogassem depois de uma longa e penosa ausência .
Aceitas o meu braço ?
— E onde me levas ?
— Vamos almoçar . Ela acompanhou-o sem constrangimento , risonha , quase feliz de o tornar a ver .
Achava-o também mais formoso . O vestuário elegante dava-lhe um certo ar de nobreza e distinção . Tinha adquirido melhores maneiras , sua conversação se tornara variada e agradável até mesmo o olhar tomara uma nova expressão .
Falava-lhe dos lugares que tinha percorrido, das magníficas paisagens que apreciara, dos costumes estrangeiros que notara com uma graça e volubilidade encantadoras.
Chegando ao hotel pediram almoço .
Sentiam um bom humor admirável .
Falaram do passado .
Recordaram a primeira vez que se tinham visto.
Nesse dia ela trajava um vestido cor de rosa que lhe empalidecia ligeiramente as faces, suavizando-lhe a beleza . Trazia um chapelinho de plumas brancas e folgava descuidosa como uma criança travessa , ao lado de uma amiga da sua idade .
Relembram as cousas mais insignificantes , as puerilidades mais graciosas. A memória lhes reavivava cenas que pareciam já esquecidas.
Achavam um certo encanto em revolver as cinzas daquele passado que para eles tinha se esvaído como sonho .
Falaram de uma noite de teatro , em que ela , despelada e ciosa porque ele tinha assestado o binóculo para uma atriz , se retirara antes de terminar a peça , e de uma manhã do estio , límpida e formosa , com todos os perfumes das flores , com todos os gorjeios das aves , em que eles tinham divagado através dos campos , felizes e alegres como noivos apaixonados.
Misturaram risos e prantos , carícias e desdéns , o que houvera de bom e transparente na sua união ao que ela tivera de sombrio e mau .
É tão bom falar-se do passado com alguém que nos compreenda, e que como nós lamente esse tempo , sem dúvida o melhor da vida !
Já lhes era tão doce estar juntos naquele íntimo sossego de outrora . (...) larga conversação que tinham tido sobre o passado prendera-os de tal sorte que lhes faltou coragem de separar-se.
O passado com todos os seus encantos atraía-os de novo .
Apertando-se mutuamente, tremiam-lhe as mãos , e os lábios mal puderam balbuciar uma confissão de amor !
Daí a 8 dias era-lhes impossível separar-se mais .
Pertenciam um ao outro por direitos mais justos , por títulos mais sagrados .
E nos momentos de colóquio íntimo em que seus corações se expandiam ao calor do sentimento que os dominava, gostavam de dizer sorrindo-se: “Foi brincando com as cinzas do passado que chegamos a amar-nos devoras”.
(F. Clotilde. Revista A Quinzena , n. 9, Fortaleza , 15 maio 1887, pp. 70-71).
Que maravilha!
ResponderExcluirDo século IX e tão atual!
Grande Francisca Clotilde.
Quanta riqueza, encontra-se em A Quinzena...
Obrigada, pela partilha, Anamélia
Um abraço,
da Lúcia
Olá Lúcia!
ExcluirObrigada pelo comentário (rever século).
Estou aguardando o endereço da Escola Francisca Clotilde (Lembra que outro dia você disse que passa em frente todos os dias?)
Um abraço
Anamélia
Bom dia! Continuo aguardando o endereço da Escoa Francisca Clotilde.
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