`A MINHA MÃE
(Hy a dans la vie des jours qui passent
mais dont le souvenir nous
accompague au tombeau).
Quero hoje relembrar o meu passado
Este tempo feliz e tão amado
Que outr’ora frui:
Chorar inda uma vez santos amores
Regar com prantos as fanadas flores
Que em botão colhi.
Oh! meu tempo de infância tão risonho
Qual lindo perfumado e ameno sonho
Tu passaste subtil!
Mas não posso olvidar-te um só momento
A ti busca saudoso o pensamento
Oh! meu risonho abril!
Quantas vezes, oh! mãe, em doce enleio
Nessa quadra feliz junto ao teu seio
Contente repousava,
De teus lábios ouvia as falas puras
Que me enchiam a infância de venturas
E feliz me julgava.
E depois de sentir os teus desvelos
De ouvir teus doces, maternais conselhos
Que n’alma recolhia
Ia em busca das flores as mais finas
Das brancas rosas, das gentis boninas
Que para ti colhia.
E vivia feliz !.., À sombra amante
De teu carinho imenso e tão constante
Achava um doce abrigo,
Mas em breve trocou-se o riso em pranto
Desfez-se de repente o ledo encanto
Tu baixaste ao jazigo.
Fugiram-me as venturas que sonhava,
O porvir das delicias que esperava
Tornou-se uma ilusão:
Dês que baixaste a campa sinto n’alma
Uma dor tão cruel que nada acalma
Que punge o coração.
Mas sempre me acompanha tua imagem,
Em horas de tristeza é a miragem
Que alenta meu sofrer;
Foi ela que guiou-me a felicidade
Que sempre pela senda da verdade
Guiou o meu viver.
O que é nossa mãe? Bem sem igual
Neste mar de ilusão é o fanal
Que nos guia o viver;
É a estrela luzente, esplendorosa
Que em noite escura, feia e borrascosa
Deus fez aparecer !
E tu oh ! minha mãe, que lá nos céus
Já habitas feliz aos pés de Deus
Enquanto eu choro aqui
Prepara para mim entre esses gozos
À paz dos loiros cherubins, formosos
Um lugar junto a ti.
Francisca Clotilde. Fortaleza - 1882. Gazeta do Norte, 20/09/1882 - p - 03
***
À MEMÓRIA DE MINHA MÃE (Aristóteles Bezerra, filho de F. Clotilde)
Deixaste a vida, Mãe, trocando as desventuras
Do mundo enganador pela vida celeste.
Do Bem, do Amor, da Fé, quanto exemplo deste,
Aos que sabem querer o bem das coisas puras!
Espírito de eleita, ascendente às alturas.
A procura de Deus, a quem tanto quiseste.
Fugiste minha Mãe, a vida em que houveste
Com mártir, a quem santificam torturas.
Estás livre do mundo, onde foste heroína
Da bondade e da Fé. E a fé sempre domina
Os eleitos de Deus, que o mal nunca quebranta.
Estás longe de mim e te julgo mais perto!
Deixou-me a tua morte o coração refeito
De Amor, de Luz e Fé – Oh! Milagre de Santa.
Aristóteles Bezerra. Transfigurações, Fortaleza, 1937.
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