"É preciso fazer da fraqueza da mulher o mais forte dos poderes, a evangelização pelo encanto, a libertação pela magia de sua graça".
(José do Patrocínio)
Era 25 de março de 1884. O Ceará pode oferecer a Nação o exemplo da Abolição dos Escravos. O fenômeno teve repercussão internacional, tanto que, José do Patrocínio, impossibilitado de estar presente, como planejara, festeja mesmo lá na Europa, oferecendo à imprensa francesa, em honra do feito, um banquete de confraternização, no decorrer do qual lê a mensagem de Victor Hugo em resposta à carta que lhe fizera:
_ Uma província no Brasil acaba de declarar extinta a escravidão no seu território. Para mim a notícia é extraordinária. Os jornais da Cidade Luz salientam o fato com francas simpatias e as notícias repercutem jubilosamente no Rio de Janeiro e nos demais recantos do Brasil.
Segundo Nélson Werneck Sodré: "O movimento abolicionista, em 1884, alcança vitória de grande repercussão: a província do Ceará extingue o cativeiro em seu território. Resultado da mobilização das camadas populares, dos empregados do comércio, dos trabalhadores de terra e do mar, dos heróicos jangadeiros, que paralisaram o tráfico negreiro interprovincial, recusando-se a transportar escravos, dos intelectuais, com o jornal Libertador à frente, como órgão da Sociedade Cearense Libertadora. O acontecimento foi amplamente comentado pela imprensa abolicionista em todo o País e motivou a multiplicação de órgãos que se batiam pela causa libertadora".
Joaquim Nabuco em exaltação ao Ceará pela Abolição, afirma: "Os brasileiros hão de reconhecer no cearense o precursor da transformação Nacional. Esplêndido farol dos nossos argonautas, das nossas liberdades! Quanta glória, ó terra predestinada: ser a primeira entre as vinte irmãs, a Fenix imortal da seca, vítima augusta da incapacidade governamental, da covardia da política e de atrós ganância dos traficantes. Como és belo Ceará".
Raimundo Girão descrevendo o momento histórico em que Dr. Sátiro de Oliveira Dias declarou: “A província do Ceará não possui mais escravos”, afirma: "É indescritível então o que passou!... Antonio Bezerra, ‘alma de poeta e verdadeiro bardo das campanhas abolicionistas’; Sousa Melo ‘coração sempre aberto às grandes causas’, e Francisca Cotilde recitaram versos próprios; e só as três e meia terminou a delirante solenidade".
Vejamos, pois, o acróstico criado e recitado pela poeta Francisca Clotilde, naquela ocasião jubilosa, o qual ela dedica "aos libertadores":
O CEARÁ É LIVRE
O fim é este! Ousados Paladinos
Chegastes ao thabor cheios de glória
E a fronte ides alçar ao som dos hinos
Aos cânticos festivos da vitória
Ressoe o brado augusto da amplidão:
Aqui hoje se estreita um povo irmão!
O CEARÁ É LIVRE
O fim é este! Ousados Paladinos
Chegastes ao thabor cheios de glória
E a fronte ides alçar ao som dos hinos
Aos cânticos festivos da vitória
Ressoe o brado augusto da amplidão:
Aqui hoje se estreita um povo irmão!
É livre o Ceará, reina a igualdade:
Livres somos! Triunfa a nova idéia!
Imensa se levanta a liberdade
Vencendo aos belos campos na epopéia
Rompe as brumas com a loura alvorada
E a aurora de Deus surge abrasada.
Livres somos! Triunfa a nova idéia!
Imensa se levanta a liberdade
Vencendo aos belos campos na epopéia
Rompe as brumas com a loura alvorada
E a aurora de Deus surge abrasada.
MOTA. Anamélia C. Francisca Clotilde: Uma Pioneira da Educação e da Literatura no Ceará. Caninde, 1997. p. 30-38.
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