A sensibilidade é muito clara na poesia de Francisca Clotilde.
Por ocasião da Seca do ano de 1915, a tão famosa "SECA DO QUINZE "
do Século passado, ela canta a amargura do irmão flagelado,
contextualizando o Êxodo Rural, através do soneto abaixo:
PARA O IGNOTO
(Ao ilustre Cel. Probo Câmara)
Eles têm que partir!... A caravana triste
Despede-se a chorar de doce abrigo,
No campo nem sequer uma florzinha existe,
O flagelo varreu todo o esplendor antigo!
A casinha, esta sim, tão alva inda persiste,
Inda guarda o verdor o juazeiro amigo;
Mas, lá longe, na estrada, o horror, o desabrigo,
A saudade cruel a que ninguém resiste!
E eles têm de partir! O rossicler do dia
Já brilhou no horizonte em clarão de agonia,
A lembrar-lhe o exílio em um país remoto.
Olham mais uma vez a casa... o céu azul
E se vai chorar o triste bando exul,
Em procura do Além, em busca do Ignoto.
Francisca Clotilde. Revista A ESTRELLA, Aracati, ago/set. de 1915.
Contribuição de Anamélia Mota no http://www.soneto.com.br/sonetos.php?n=9794
E num êxtase de alegria, no ano seguinte, pós "Seca do Quinze", Francisca Clotilde nos presenteia com o soneto,
SORRISOS DE ABRIL
(À alma lirial de Gilberta Galvão)
O sorriso de Abril!...A graça insonte e meiga
Que se evola da flor e que brota no ninho;
O perfume, a poesia que dentro em nós se arreiga
Do campo verde, ao mais vivo carinho.
É tudo encantador... A brisa mais se ameiga,
Corre manso o regato na orla do caminho,
Reverdece da planta o trêmulo raminho
Tudo canta e sorri pela extensão da veiga!
O coração palpita e sonha à luz dourada
Que do aul nos inspira a rima abençoada,
Trescalando de afeto e ternura sutil;
Primavera no campo e primavera n’alma,
Foge a treva da dor e o coração se acalma
Ante a graça aromal do sorriso de Abril!
(F. Clotilde. Revista A Estrela. Aracati, abr. de 1916)
Ver também em MOTA, Anamélia Custódio. FRANCISCA CLOTILDE: Uma Pioneira da Educação e na Literatura no Ceará. Canindé, 1997.
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