Há flores que se desenvolvem na liberdade do campo ;
há outras, porém , que apenas nos limites de um jardim e
cultivadas por mão hábil podem crescer e desabrochar .
(Francisca Clotilde)
"É no lar , santuário íntimo de seus mais puros afetos que a mulher deve ostentar verdadeiramente a bondade a ternura de seu coração , tornando-se o anjo da guarda do esposo e dos filhos e lhes inspirando o bem e a virtude .
A natureza dando à mulher uma constituição fraca e um temperamento nervoso não a destinou à vida da luta , no seio da sociedade , entregue às agitações e ao afã dos negócios ; reservou-a como uma relíquia mimosa para a família , para aformosear este pequeno mundo intimo, onde ela tem de exercer sua benfazeja influência no tríplice papel de filha , esposa e mãe .
Há flores que se desenvolvem na liberdade do campo ; há outras, porém , que apenas nos limites de um jardim e cultivadas por mão hábil podem crescer e desabrochar .
A mulher assemelha-se a essas últimas flores , e no recinto da família , cercada dos cuidados dos entes que a idolatram, e por sua vez enchendo-os de desvelos e solicitude é que pode mostrar a exuberância de seu coração e a beleza de sua alma .
Houve, porém , mulheres que se imortalizaram por feitos gloriosos e que a história nos apresenta como verdadeiras heroínas .
Se Judith embebeu na garganta do opressor dos judeus o punhal homicida , Roland emaranhou-se na política para destronizar um rei pusilânime e aclarar a Franca com o sol da liberdade , e servindo-se do gládio de sua pena inspirada com ela acutilou o despotismo e a tirania .
Seria longo repetir os nomes dessas mulheres que se imortalizaram, mas não teremos entre nós outras heroínas iguais a essas que arrastadas pela força do gênio se atiraram na arena da luta por amor de uma idéia , ou pelo fanatismo de uma causa ?
Na família é a mulher a companheira do homem , a educadora dos filhos .
Uma mãe lê na alma dos filhos com uma perspicácia , verdadeiramente admirável .
Uma língua que balbucia, uma face que cora , um olhar que se perturba são para ela indícios de uma má ação que é preciso conhecer e cuja repetição deve ser evitada para que não traga serias conseqüências .
O menino molda-se à sua vontade , à sua influência , e guiado pelo amor solícito e desvelado que ela lhe dedica cresce nas melhores disposições , e tornando-se homem , se encontra na esposa a mesma ternura prossegue na senda do bem , da qual só o poderão afastar o turbilhão de paixões desencadeadas e furiosas.
A mulher digna de sua nobre missão transforma o lar em um paraíso e consegue com um sorriso desviar dele todas as aflições , desterrar todas as tristezas .
Desdenha os ornatos frívolos , e faz das boas maneiras e das graças que dá a educação a par da amabilidade , o seu principal adorno .
Encarrega-se de instruir o espírito dos filhos , e para isso deve possuir uma boa soma de conhecimentos úteis e uma instrução aprimorada.
Deve pelo contrário cultivar boas relações , tendo, porém , o máximo cuidado em escolhê-las, porque assim como uma amiga sincera é um tesouro de raro valor , também uma amiga fingida é uma serpente que mais cedo ou mais tarde inocula o veneno de sua alma naqueles com quem convive.
A boa esposa auxilia em todas as ocasiões com prudentes conselhos o companheiro de sua vida , e nunca o inibe de tornar-se útil á sociedade e a seus semelhantes por um exagerado egoísmo e um excessivo afeto mal entendido .
É ela a primeira a dizer-lhe o que deve fazer , e tornar fácil o que lhe parecia difícil , a compartilhar as decepções e prazeres que lhe sobrevenham nas alternativas da vida , sendo sempre a amiga desvelada e carinhosa pronta a derramar gota a gota o amor que se alberga no seu coração sobre a existência daquele a quem ligou a sua .
Educai, pois , a mulher , ajuntai aos dotes naturais que a embelezam os encantos de um espírito cultivado, avigorai-lhe os bons sentimentos , tornai-a enfim digna de educar os filhos e prepará-los para a vida completa , e ela será um diamante de inexcedível valor , a lâmpada maravilhosa a espargir luz em torno do lar , a fonte de onde dimanarão a prosperidade e a ventura de família" .
[1] F. CLOTILDE. Revista A Quinzena. Fortaleza , 15 de março de 1887 e 30 de março 1887, p. 47-48.
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