sábado, 16 de julho de 2011

***** O DIREITO DO POVO (Por Francisca Clotilde, 1911) *****

Sabedoria popular! Bonitas palavras inteiramente vazias de sentido no apregoado regime das Repúclicas.
Temos o exemplo frisante do que se passa entre nós, neste triste espetáculo que o Brasil apresenta perante as nações cultas da terra.
Para que serve o direito do voto? Qual é o fim dos comícios eleitorais?
No entanto, qual é o resultado dessa atividade sagrada e respeitável?
Os partidos impõem o reconhecimento de seus adeptos e, embora tenham eles tido a minoria e seja isso um fato claríssimo e indiscutível, saem vitoriosos e vão às câmaras alardear o seu prestígio e apresentam projetos que fazem envergonhar os que dentre eles são mais escrupulosos e menos indignos.
É isto que chamam República? Pobre Povo!
O teu direito é conspureado a todo instante, só tens que suportar o vexame do imposto, o jogo dos mandões, a prepotência dos chefes que colocam os seus interesses acima de tudo.
Trabalhas para que a tua Pátria tenha soldados e vasos de guerra que a tornem respeitada e, quando é mister o teu sacrifício os homens de farda fazem de ti o alvo de suas carabinas e os encouraçados chegam aos teus portos a fim de bombardearem as tuas cidades?
Sonhas a liberdade e a justiça?
Utopias!
Para seres livres é preciso que derrames o teu sangue generoso nas praças e nas ruas, que, esmagues os teus afetos mais fortes indo de armas na mão enfrentar esses irmãos desnaturados que desejam o teu aniquilamento e o teu captiveiro moral.
No dia que acordas como um leão selvagem o teu despertar é terrível.Derrubas os tiranos, como fizestes a 24 de janeiro e, repugnando-te manchar as tuas mãos com o sangue dos que te esmagavam no furor de seu despotismo, perdoa os desvarios envolvendo-os na esmola de tua misericórdia.
Tudo se encaminha numa corrente fatal para o desprestígio de uma Nação que devia espirar os mais elevados ideais.
Que ressoe pela imprensa o grito que nos vem do íntimo verberando os desmandos e injustiças com que se celebram os timoneiros da nau governamental.
Será vencido o povo?
Continuará a ser vítima do partidarismo egoísta dos maus cidadãos, ameaçado pelas baionetas e pelos canhões?
Deus proteja o Ceará, que atravessa uma fase difícil, e livre os meus patrícios de lutas fratricidas fazendo-os gozar as delícias de um governo digno e justo.
F. CLOTILDE. In: ARAÚJO, Maria Stela B. de. In: Mulheres do Brasil (Pensamento e Ação) Vol. 1. Editora Henriqueta Galeno, Fortaleza, 1971, pp. 242-243.
F. CLOTILDE In: MOTA, Anamélia Custódio. FRANCISCA CLOTILDE: Uma Pioneira da Educação e da Literatura no Ceará, 2007 pp. 92-93. 

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