quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

FRANCISCA CLOTILDE: PREFÁCIO (Por Rosângela Ponciano)

FRANCISCA CLOTILDE

Receber o convite para prefaciar este livro para mim foi motivo de extremo contentamento, mas ao mesmo tempo, me proporcionou uma sensação de insegurança quanto ao texto que iria ser construído, já que nunca produzira algo nesse sentido. No entanto, um impulso interior me fez aceitar prontamente, pois o nome de Anamélia Mota prenuncia um trabalho, sério, profundo, persistente, até.
            Lembro-me da primeira vez em que conversei com a escritora. Foi através do telefone. Ela falava de Tauá e conseguira o meu número, através de um amigo do teatro que havia estado naquela cidade. O motivo era o mesmo que durante anos me aproximara de tantas pessoas: Francisca Clotilde.
            Seguiu-se, então, um número sistemático de ligações, e-mail's e cartas da escritora, em busca de dados sobre a matriarca das Clotildes. Na medida do possível, eu enviava as informações solicitadas, que iam enriquecidas por imagens e peculiaridades da nossa querida “estrela”.
            Vi, ao longo de todo esse tempo, a escritora Anamélia se debruçar sobre os apontamentos resultantes de uma varredura nas bibliotecas e acervos de Tauá, Fortaleza, Baturité e regiões vizinhas. Um trabalho meticuloso, paciente e investigativo. A escritora não se abatia diante das dificuldades encontradas como conseqüência de um longo período de silêncio por parte de muitos escritores e pesquisadores. Cada informação, cada dado colhido cuidadosamente, era imediatamente enviado para mim e trocávamos registros, suposições e constatações. Um trabalho difícil, porém extremamente prazeroso e encantador.
            Percebi que acontecera com a escritora Anamélia o mesmo que já havia detectado em boa parte das pessoas com quem mantive contato, ao longo dos anos, por ocasião das pesquisas: o surgimento de uma paixão, eu diria amor, por Francisca Clotilde. Neste caso era diferente, parecia estar mais acentuado. Até nos últimos minutos da noite as ligações surgiam provenientes de Tauá. Alguns dados eram novos até para a própria família. As informações diziam respeito não só à autora de ‘A Divorciada’, mas se estendiam às produções de seus filhos e a registros em revistas da época. O quebra-cabeças estava, finalmente, sendo construído.
            Fui uma das primeiras pessoas a ter o conteúdo deste livro nas mãos e a cada página, a cada assunto abordado pude ter a certeza de que as informações eram enriquecedoras e nos permitiam uma abordagem mais ampla sobre a trajetória que Francisca Clotilde construiu de Tauá a Aracati, onde deixou seus descendentes.
            Ver a publicação deste livro me deixa extremamente feliz. É um registro sério que vem reunir informações antes fragmentadas, agora cuidadosamente organizadas que vêm dar suporte a tantos pesquisadores inquietos com a ausência de maiores dados sobre Clotilde. A leitura é instigante e nos permite, em certas ocasiões, experimentar a sensação de voltar no tempo que a querida professora, escritora e poetisa abolicionista ajudou a construir com mãos, gestos e atitudes íntegras, ao longo dos setenta e três anos em que esteve entre nós, seja através do Externato Santa Clotilde, nas páginas da revista centenária, A Estrella, nos seus contos, poemas, dramas ou nos fatos pitorescos, aqui narrados, que nos falam da “doce velhinha” que acolhia a todos, sempre com um sorriso a nos ensinar, humildemente, a linguagem do amor e da evolução do ser humano, na construção de um mundo melhor.
            Não cairia na imprudência de dizer que é um livro completo, pois conhecendo a escritora Anamélia Mota como eu conheço, sei que continuará, incansavelmente, a sua pesquisa nos proporcionando, quem sabe num futuro próximo, a oportunidade de conhecer mais informações que irão dar seqüência a este livro tão precioso em detalhes. Posso dizer, no entanto, que se trata de um resultado encantador pelo teor que contém e que, há anos, vem sendo aguardado algo nesse sentido por pesquisadores e admiradores da mulher Francisca Clotilde.
                                                                                                         Rosângela Ponciano
    Aracati - CE, 10 de agosto de 2007
           

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