sexta-feira, 2 de março de 2012

FRANCISCA CLOTILDE (BIOGAFIA SUCINTA)

Francisca Clotilde, Antonieta Clotilde e a turma de alunas do ano de 1921
Foto: Rosângela Ponciano

            Francisca Clotilde nasceu na fazenda São Lourenço, em São João dos Inhamuns*, hoje Tauá, sede do município cearense de Inhamuns, em plena região encravada no polígono das secas no Nordeste brasileiro, no dia 19 de outubro de 1862.
    Filha de João Correia Lima e de D. Ana Maria Castelo Branco. Sua infância decorreu sem maiores incidentes na fazenda, na paz bucólica do sertão.
Por motivo ignorado e sem data precisa, a família muda-se o povoado de Calabôca, serra que viria a ser a cidade de Baturité, onde a menina fez seus primeiros estudos com a professora D. Ursulina Furtado, por quem, ao longo de sua vida, cultivou profunda admiração.
Depois do aprendizado primário, a família muda-se para Fortaleza, onde foi matriculada, no Colégio Imaculada Conceição, já então se fazia notar o seu espírito lúcido e elevado, a sua cultura sólida e brilhante e as suas inclinações literárias e poéticas. Desde o ano de 1877 aparecem trabalhos seus na Imprensa: Pedro II, Almanaque do Ceará.


Atendendo a vontade do pai, como era costume na época, casa-se em 1880, aos 18 anos com Francisco de Assis Barbosa Lima. Pouco se sabe sobre essa união. Já órfã de mãe, nesse mesmo ano perde o pai.

Em 1882 submete-se a exames para professora da Escola Normal Pedro II, então dirigida e orientada exclusivamente por homens. Fazendo provas brilhantes, com distinção em todas as matérias, foi considerada apta para exercer o magistério, carreira com a qual se sentia fortemente inclinada e - fato notável – foi a primeira professora do sexo feminino a lecionar na Escola Normal, com apenas 20 anos de idade.
Era Diretor desse educandário, àquela época, o Sr. José de Barcelos, e foi seu examinador o professor Tomaz Antonio Carvalho, que era lente só para o sexo masculino.
Lecionou na Escola Normal de junho de 1882 até o ano de 1893, quando por perseguição política e outros preconceitos, foi demitida.
Integrante da Sociedade das Cearenses Libertadoras, movimento de caráter abolicionista, fundada em 18 de dezembro de 1882, ora angariando fundos, ora escrevendo panfletos, na terra que primeiro libertou os escravos, foi não tenhamos dúvida, ao lado de Maria Tomázia, uma das pioneiras do movimento abolicionista.
Em primeiro de janeiro de 1883 participou em Acarape (Redenção) da libertação dos escravos daquele município.
Foi figura proeminente do Clube Literário do qual fizeram parte: Duarte Bezerra, Farias Brito, Justiniano de Serpa, Antonio Bezerra de Meneses, Oliveira Paiva, Juvenal Galeno e outros. O Clube Literário manteve na imprensa um jornal A Quinzena, onde Francisca Clotilde publicou vários sonetos, contos e crônicas repassados de lirismo e cheios de beleza.
Colaboradora do jornal O Domingo; surgido em Fortaleza em 1888, onde colaboraram figuras de projeção como Rodolfo Teófilo, Clóvis Beviláqua, Juvenal Galeno e outros.
Redigiu para A Evolução jornal científico e literário, fundado em 1888 dirigido por Duarte Bezerra e Fabrício de Barros. No artigo de apresentação do jornal supra citado, ela afirma: “A evolução é a palavra do século, deve, portanto, ser a bússola do jornalista criterioso”.
Colaborou também no Ceará Ilustrado, surgido a 20 de janeiro de 1894, aparecendo trabalhos seus em meio aos de Álvaro Martins, Sabino Batista, Viana de Carvalho, Juvino Guedes, Alves de Lima, Pedro Muriz, Rodrigues de Carvalho e outros.
Em O Lyrio, de Recife (1902-1904), de Amélia Beviláqua (esposa do jurista cearense Clóvis Beviláqua) com quem tinha laços de amizade; teve poesias e contos publicados.
Defendia idéias liberais democráticas, abolicionistas e republicanas. Tendo demonstrado em vários artigos, contos e poesias sensibilidade diante das diferenças e discriminações sociais, por isso recebeu críticas severas.
            Em 1889 publica obra didática Lições de Aritmética para a Escola Normal, ala feminina, com objetivos pedagógicos, contendo 102 páginas.
Em 1891, por perseguição política foi demitida da Escola Normal, e fundou em Fortaleza um educandário: Externato Santa Clotilde, que funcionou por três anos.
Em 1897 publica Coleção de Contos, com prefácio de Tibúrcio de Oliveira (autor de O Jangadeiro), pela Tipografia de Cunho Ferro & Cia.
            Finalzinho do século volta a morar em Baturité, fugindo de um surto de tuberculose e outras epidemias que pairava em Fortaleza.
Abriu em Baturité um Externato em que meninos e meninas, sem separação assistiam, ao mesmo tempo, a mesma aula e, ao recreio, convivendo na doce camaradagem da infância.
Em 1902, impassível às regras da sociedade publica A Divorciada, romance de 233 páginas. publicado na Tip. Moderna a vapor Ateliers Louis, Fortaleza, Rua Formosa (hoje Barão do rio Branco) n.º 71, obra que pelo título abala a sociedade conservadora da província gerando debates conflituosos entre a ala conservadora e a ala progressista.
A Cidade, jornal periódico de Sobral na edição de 7/06/1902, “louva o estilo da romancista que qualifica de “ligeiro, delicado, fácil, correto e atraente, inspirado em realismo puro”.
            Co-fundadora da primeira agremiação literária feminina, fundada em Fortaleza em 1904 A Liga Feminista Cearense, presidida por Alba Valdez, identificadas no meio literário como defensoras do direito da ascensão cultural, econômica e política para as mulheres.
            No dia 28 de outubro de 1906, ainda na cidade de Baturité juntamente com sua filha Antonieta Clotilde inicia a publicação da revista A Estrella, que teve duração ininterrupta até 1921.
Em fevereiro de 1908 ela deixou a cidade de Baturité, embarcando para a cidade de Aracati a convite de pessoas de destaque daquela sociedade. Em 09 de março do mesmo ano fundou o Externato Santa Clotilde, com participação ativa de duas filhas: Antonieta e Ângela Clotilde.
Colabora, tanto ela quanto a filha Antonieta Clotilde, no O Aracati – órgão de imprensa local – falando das atividades literárias, afirma que “a burguesia azinhavrada de interesses materiais não predomina entre nós”. Em resposta, citando os intelectuais da terra o jornal diz que: “merecem verdadeira apoteose de aplausos as primorosas quão modestas poetisas as Clotlides, mãe e filha” (edição de 25 de março de 1909).
Posteriormente ampliou o Externato com um curso masculino que deu bons resultados, continuando de então até 30 de novembro de 1935, aos 73 anos, passando, portanto, mais de 53 anos de profícuo e afanoso lutar em prol do desenvolvimento intelectual da mocidade cearense (Fortaleza, Baturité e Aracati), sendo a maior parte desse tempo, ou seja, mais de 27 anos, na cidade de Aracati. Na realidade se educou a elite da juventude da terra dos “bons ares”.
Ajudou na criação da Liga Feminina em apoio à candidatura oposicionista de Franco Rabelo a Accioli. Nesse tempo publicou uma série de artigos, posteriormente organizado em coletânea Pelo Ceará, editados na Folha do Comércio de Aracati – CE: Tip. Comercial, s. d. 70  p.
Além de professora, poetisa, colaboradora em revistas e jornais, contista, romancista, foi também dramaturga. Escreveu várias obras teatrais, monólogos, diálogos, comédias e dramas históricos.
Em 1924 a fúria do Jaguaribe, quase arrasa as cidades que banhava e de modo especial a cidade de Aracati, e, muito se perdeu da produção e história das Clotildes (Francisca, Antonieta, Angelita e Aristóteles).
De formação religiosa, tendo grande devoção por Santa Terezinha.
            Mercê de seu talento, teve o grito da mulher como expressão estética para sua obra. Francisca Clotilde foi mulher de vanguarda, uma mulher de denúncia; escreveu sobre questões sociais, colocando em debate o mundo das pessoas, dos homens e das mulheres. Atravessou os anos e confirma, centenária, a vocação de ser imorredoura.
            Faleceu em Aracati - CE, em 8 de dezembro de 1935.
Suas obras hoje constituem raridades bibliográficas. Podem ser encontradas na Biblioteca Nacional e na Biblioteca Pública Menezes Pimentel de Fortaleza – CE, no Setor de Obras Raras.
            É Patrona na Ala Feminina na Casa de Juvenal Galeno. É nome de rua em Fortaleza-CE, no bairro Rodolfo Teófilo, CEP: 60431-070. É nome do Grupo Teatral da cidade de Aracati CE. É Patrona da cadeira número 11 na Academia Tauaense de Letras, ocupada por Anamélia Custódio Mota, que desenvolve uma acirrada pesquisa sobre essa ilustre tauaense.
                                  
Texto ANIVERSARIANTE DO DIA - FRANCISCA CLOTILDE - 19 de outubro de 1862
Anamélia Custódio Mota
Tauá-CE, 19 de outubro de 2005
(Divulgado nas três emissoras de rádio local).

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