Anne Freud (1958). já dizia: É normal para um adolescente agir, por um tempo considerável, de modo inconseqüente e imprevisível”. Nessa perspectiva, Eric Erickson (1963), recomenda não atribuir às manifestações psicopatológicas dos adolescentes a mesma gravidade que às dos adultos. O que vemos? Pais e educadores ficam inquietos diante do modo de agir do adolescente em nossos dias (e em todos os tempos). Os próprios adolescentes, tantas vezes censurados e reprimidos ficam angustiados e inseguros, frustrados e muitas vezes depressivos.
Freqüentemente desconhecida do meio familiar e escolar, a depressão do adolescente, pelas suas reações adversas que suscita e, pelas dificuldades de adaptação que condiciona, tende a agravar-se e a prolongar-se, se a família e a escola não forem capazes de detectar o problema na sua essência.
O ser humano é por natureza um ser social. Uma das características básicas da presença depressiva no jovem é o isolamento exagerado. Outras freqüências semelhantes são: tristeza, perda de interesse ou prazer, modificações de apetite e de peso, modificação de sono, lentidão psicomotora nítida, fadiga, sentimento de desvalorização, culpa excessiva, dificuldade de concentração, idéias de suicídio.
Quase sempre o adolescente não se queixa espontaneamente de sua tristeza, por desconfiança ou por para evitar um confronto doloroso com sentimentos insuportáveis ou negativos e, principalmente pelo medo de sua frustração com relação a família, a escola e aos amigos.
Os adolescentes que se apóiam mais em seus amigos do que em seus pais são mais deprimidos. Os filhos de famílias autoritárias ou permissivas são, mais deprimidos do que os de famílias onde as relações de poder são mais próximas do modelo democrático A vivência depressiva do adolescente, quando se exprime, manifesta-se quase sempre, através de sentimentos de vazio, de tédio, de indiferença, mal estar não definido, sentimento de solidão e de abandono, impressão de ser mal amado, incompreendido ou rejeitado (seja pela família, pelo grupo ou por uma determinada pessoa), ocasionando frustrações das mais diversas.
Da mesma forma, estimas exageradas de si, idéias de grandeza eventualmente delirante; necessidade reduzida de sono, necessidade de falar constantemente; fuga de idéias; distração; hiper-atividade (social, profissional ou sexual); compras exageradas; também são sintomas, embora não parentes, de estado depressivo.
As carências afetivas, em particular ligadas a depressão materna, principalmente, entre as mães jovens, tem sido repetidamente constatado por estudiosos. Ser mãe (e pai também) na adolescência, além de criar um hiato na vida da pessoa, que poderá ser superado ou não, é motivo de situação depressiva e de imensas frustrações, que, não maioria das vezes não são superadas. E se são, deixam sempre cicatrizes, externas e internamente.
As frustrações são inaceitáveis e têm que ser apagadas, a qualquer preço sob pena de se instalar um temível e desalentador sentimento de vazio: as brigas parecem aliviar. As tensões acumuladas não podem e nem devem ser evacuadas em gestos agressivos ou em prazeres artificiais. Os outros, vistos como culpados, passam a ser objetos a serviço dos impulsos, os afetos inexistem: é a instauração do estresse.
O futuro dá medo, gera insegurança. Mas é o futuro também que trará as respostas, que não são imediatas, nem rápidas, mas que poderão ser reais e sólidas e terão a exata dimensão da subjetividade de cada um.
Os comportamentos depressivos podem induzir atitudes de incompreensão, rejeição e hostilidade do meio, atitudes estas que reforçam sua visão negativa de si mesmo e dos outros: os pais e os professores vêem o adolescente deprimido como preguiçoso, irresponsável, imaturo e insubordinado.
O que podemos fazer pra reverter o quadro de depressão e frustração? É importante definir com o adolescente objetivos realistas que possam valorizar a si, a entender a sua família, a ter relações mais gratificantes com os outros e alcançar um sentimento de competência, de auto-estima e de poder. Enfim, prepará-lo para vencer os obstáculos e livrar-se das inúmeras frustrações adquiridas ao longo da vida.
A indisciplina e a violência foram consideradas as grandes pragas do século XX. Infelizmente o problema continua, mas será que nós enquanto família, escola e/ou sociedade estamos fazendo alguma coisa para reverter esse quadro ou estamos esperando que a coisa aconteça como mágica?
Estamos cuidando de nossas crianças e de nossos jovens como eles merecem e devem ser cuidados, para que tenhamos famílias, escolas e sociedades melhores do que as do presente? Mais livres de estados depressivos e de traumas e frustrações insuperáveis?
Uma das características da presença depressiva no jovem é o isolamento exagerado. Quando se apresenta referida situação, cabe a INTERVENÇÃO. No primeiro momento por parte do educador, que o encaminhará ao psicopedagogo e este, aos órgãos competentes.
Face à complexidade e à superposição habitual dos determinismos, a escolha de uma estratégia terapeuta depende, principalmente, da avaliação do desenvolvimento do adolescente, de sua família e de suas inter-relações.
A permissividade que reprime limites, os referenciais e os modelos indispensáveis induz no adolescente um sentimento de insegurança, de frustração, o que muitas vezes o leva ao estado depressivo, mediante:
· As dificuldades econômicas, os conflitos políticos e sociais, o aumento do desemprego e da miséria, dão aos adolescentes uma imagem negativa da sociedade e do mundo dos adultos;
· A distância entre os valores pregados e a realidade de uma sociedade freqüentemente desumana e alienante pode parecer-lhe trágica, devido ao seu modo de pensar puro e idealista, podem condená-la globalmente, recusando-se a se identificar com os adultos e arriscando-se a fixar em uma adolescência sem saída;
· O uso de droga e do álcool, os comportamentos anti-sociais podem aparecer como meios de lutar contra os sentimentos de vergonha, ansiedades e frustrações.
Sendo assim, a depressão pode aparecer não como uma patologia, mas, como uma resposta inevitável a um mundo frustrante.
“Há que se cuidar do BROTO
pra que a vida nos dê flor e frutos”.
(Milton Nascimento)
Anamélia Custódio Mota
Artigo publicado na Revista Mundo Jovem, PUCRS, nº 351, out/2004, p. 8
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