É na acolhida ou na rejeição, na aliança ou
na hostilidade para com o rosto do outro,
que se estabelecem as relações mais primárias
do ser humano e se decidem as tendências
de dominação ou de cooperação. Cuidar do
outro é zelar para que esta dialogação, esta
ação de diálogo eu-tu, seja libertadora,
sinergética e construtora de aliança
perene de paz e de moralização”.
(Leonardo Boff –Saber Cuidar)
Durante muito tempo, falar de sexo era proibido, pois este era sempre associado à coisa feia, imoralidade, pecado. Mesmo sabendo que o desenvolvimento da sexualidade está interligado ao desenvolvimento do ser humano, representando papel importante na estruturação da personalidade, para muitos pais e porque não dizer, para muitos (muitíssimos), educadores, falar de sexo é extremamente difícil, mesmo em nossa era, onde vivemos intensamente a revolução sexual iniciada depois da década de 1970.
A escola deve informar, problematizar e debater os diferentes tabus, preconceitos, crenças e atitudes existentes na sociedade. Para isso, é necessário que o educador tenha acesso à formação específica para tratar da sexualidade com crianças e jovens na escola, possibilitando a construção de uma postura consciente no trato desse tema. Só que para isso, os professores necessitam entrar em contato com suas próprias dificuldades diante do tema, com questões teóricas, leituras e discussões referentes à sexualidade e suas diferentes abordagens.
Preparar-se para a intervenção prática, junto aos alunos e, ter acesso a um espaço grupal de produção de conhecimento a partir dessa prática.
A formação deve ocorrer de forma continuada e sistemática, propiciando a reflexão sobre valores e preconceitos dos próprios educadores. Reconhecendo os valores que regem seus próprios comportamentos e orientam sua visão de mundo, será capaz de reconhecer a legitimidade de valores e comportamentos diversos dos seus. Tal postura cria condições mais favoráveis para o esclarecimento, à informação e o debate sem a imposição de valores específicos.
A postura dos educadores precisa refletir os valores democráticos e pluralistas propostos e os objetivos gerais a serem alcançados. Em questões de gênero, por exemplo, os professores devem transmitir, por sua conduta a valorização da equidade entre os gêneros e a dignidade de cada aluno e, ao mesmo tempo, garantam o respeito e a participação de todos, trabalhando pela não discriminação entre as pessoas.
Tivemos a oportunidade de participar da capacitação do PROJETO AMOR À VIDA, (SEDUC X SUS), nos tornando inclusive multiplicadora, foi um crescimento incrível, pois a superação de preconceitos, muda a postura em relação ao trato dos temas estudados.
A sexualidade é um tema que deve ser tratado com muita atenção e carinho, pois ele mexe com valores, com padrões éticos, estéticos, políticos, de todos em geral, e, de cada um em especial. Por isso é necessária muita responsabilidade para conduzir o estudo e aprofundamento, com um referencial teórico que ilumine a prática pedagógica na sala de aula.
Para Frei Betto (2000), os professores quando falam de sexualidade: "Tratam da higiene corporal, para prevenir doenças sexualmente transmissíveis. Jamais falam de afetividade, de constituir uma família, de casamento. O resultado é que formam mão de obra para o mercado de trabalho, mas não pessoas responsáveis, felizes e cidadãs”.
Deve-se preservar a intimidade dos alunos e jamais expor um problema sem autorização. Assim como fugir de discursos moralistas. Situações mais graves, que envolvam uso de drogas, violência sexual e maus tratos, não devem ser tratados apenas pela escola. Casos como esses exigem acompanhamento de profissionais especializados, como médicos e psicólogos, e devem ser comunicados ao conselho Tutelar.
Celso Antunes defende que “Todas as relações – familiares, profissionais ou pessoais – devem ser permeadas pela afetividade, em qualquer idade ou nível sócio-cultural”.
Os jovens não têm como deixar os problemas em casa. Enfrentar sentimentos não é fácil para ninguém, mas trabalhar as emoções é importante no amadurecimento do ser humano. Portanto esse conteúdo deve fazer parte do compromisso pedagógico de uma instituição que se preocupa com o desenvolvimento integral dos alunos.
Quanto aos procedimentos metodológicos, o professor dispõe do:
MÈTODO EXPOSITIVO: deve ser utilizado para apresentação com tempo muito limitado e para grandes grupos. O expositor não é interrompido, não dialoga com os ouvintes, não sabe o que o grupo pensa e não tem o trabalho de preparar atividades.
MÉTODO AUDIVISUAL: utiliza objetos intermediários (filmes, gravações, transparências, cartazes). É necessário reservar um tempo para o debate. È considerado um método razoável.
MÉTODO PARTICIPATIVO: é utilizado com o auxílio de inúmeras dinâmicas, e, tem o objetivo de desenvolver habilidades específicas, além de estimular e permitir a ação cooperativa entre os participantes, a socialização do saber e o conhecimento de vivências, a manifestação dos sentimentos, o esclarecimento de dúvidas, o treino para lutar com as situações do cotidiano e o incentivo à melhoria da qualidade de vida.
As dinâmicas de grupo são recursos excelentes para conduzir os trabalhos de orientação sexual. O saber só será prazeroso, se estiver voltado para o interesse dos alunos. Para deixar nascer a disciplina, não é necessário sufocar o aluno ou eliminar a alegria. A vida não é isto nem aquilo, mas é isto e aquilo. Hoje está posto um desafio que precisa ser enfrentado no exato espaço da sala de aula: o de se recuperar o sentido da autoridade nas relações pedagógicas, sem qualquer concessão a autoritarismos, pois destes todos estão fartos.
A participação da família é de suma importância no acompanhamento educacional das crianças e dos adolescentes. A campanha “a família na escola” não deve ser apenas um dia especial do ano, mas um ponto de partida para retomar esse relacionamento, para compartilhar responsabilidades.
Anamélia Custódio Mota
Artigo publicado na Revista Mundo Jovem, nº 343, fev de 2004:17
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